A Madeira Mamoré é um complexo ferroviário que margeia os rios Mamoré e Madeira e tem os seus extremos as cidades de Guajará-Mirim e Porto Velho. Venho acompanhando desde o início as obras de revitalização da Estação da Madeira Mamoré desde meados de 2006, sob a responsabilidade da Prefeitura de Porto Velho. Até março de 2011 foram concluídas algumas obras, como a urbanização parcial do pátio, restauração de dois galpões, a reforma do teatro de arena, a restauração do prédio da Estação, a reforma do prédio do antigo plano inclinado, construção de calçadão entre a Estação e a Avenida Farquhar e a construção de uma praça onde estavam as barracas de vendas a beira do Madeira, em frente ao Galpão 2.
Tudo isso benéfico, obras necessárias e que devemos reconhecer como importantes para a revitalização daquele espaço histórico. O custo para concluir essas obras, segundo a Prefeitura, ficou em torno de 11 milhões de reais.Mas tenho visto equívocos que merecem observação, como o que vem acontecendo com a embarcação ali encalhada no pátio da Estação por pelo menos cinco décadas. No dia 22 de fevereiro postei umas fotos da dita embarcação neste blog, mostrando que ela estava completamente abandonada e servindo de criadouro para mosquitos e lixeira. Na verdade, eu quis dizer que se gastou tanto dinheiro para a recuperação parcial da Estação e deixaram a pequena embarcação de fora das obras. Inadmissível. Estive no pátio da Estação, dia 26 de março, e não acreditei no que vi. Colocaram cascalho no interior da embarcação e depois fizeram um “jardim”. Eu pensei: fizeram um cemitério para os mosquitos? Falando sério, até agora tento entender a atitude de tentar soterrar o barco. Fiquei mais espantado quando li no Jornal “O Estadão”, dessa terça feira, 29 de março, que o “Barco não tem nenhum valor histórico, diz Iphan”. É preocupante um órgão que tem a responsabilidade de preservar bens históricos ou representativos de uma sociedade, tomar uma decisão sem ter feito uma avaliação mais profunda do barco, que já faz parte do contexto daquele espaço por estar ali há pelo menos 50 anos. Porque, então, não retiraram a embarcação antes da reforma, já que o Iphan “atesta” que “não tem valor histórico”? Porque deixaram lá, como se ninguém fosse verificar o seu abandono? Porque fizeram dela um “jardim” de mau gosto? Será que é essa a única alternativa para o seu destino final? E olha que eu ainda não falei das máquinas “Maria-fumaça” e dos vagões que estão caindo aos pedaços na própria Estação. O Superintendente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, Beto Bertagna, ao dizer que a embarcação “NÃO TEM VALOR HISTÓRICO” deveria apresentar um histórico do acervo. Mas achou por bem autorizar enterrar o barco. Se pretendia enterrar, o serviço foi mau feito. Tanto que aparece parte da embarcação, como partes da popa e da proa, como querendo dizer que ainda sobrevive por que fez parte da historia dessa região – dos seus rios. Mas na mesma reportagem o Superintendente entra em contradição. Diz que a Prefeitura deveria ter retirado o barco do pátio antes das obras. E que o procedimento de enterrar o barco, preserva mais o monumento. “Quem quiser realizar pesquisas posteriormente pode usar a embarcação, pois ela continuará no mesmo local.” – diz ele ao Estadão. O que é isso Superintendente. Se a embarcação “não tem valor histórico”, então, porque continuar com “aquele lixo” no pátio. É mais prudente retira-la do cenário histórico da Estação da EFMM. Eu disse LIXO, porque se o Iphan constata que não é uma peça histórica, então não tem sentido continuar no local, causando má impressão ao visitante. Por outro lado, enquanto estiver no pátio da Estação, as pessoas continuarão a questionar a sua existência. Como várias vezes me fizeram perguntas sobre a embarcação. Na minha humilde opinião, o barco tem valor histórico para a cidade de Porto Velho. Onde deverá permanecer, como um dos testemunhos do desenvolvimento dessa região, é uma decisão de vários órgãos que tem o dever de preservar o patrimônio histórico. E não tomar uma decisão unilateral. Sugiro que se restaure a embarcação e a coloque novamente no rio, aportando em frente à Estação, como mais um atrativo do complexo. Já me disseram que se chamava “Xapuri” e que foi parar naquele local porque houve um crime em seu interior e por isso fazia parte do inquérito. Mas ao fotografar a desativada embarcação, observei na popa que está escrito “Pará”. Portanto, merece uma pesquisa mais aprofundada com antigos moradores, antes que seja tarde e se faça uma injustiça. Ai eu pergunto aos entendidos: a locomotiva 50 tem valor histórico para a Madeira-Mamoré? Ela veio do Sul do país,em 1982, para percorrer o trecho turístico revitalizado naquele ano, entre Porto Velho e Teotônio. Portanto, não faz parte do acervo original da Ferrovia. Então, porque permanece no pátio da Estação? Posso dizer que é uma “peça velha” e não está em uso, por falta de condições mecânicas. A ferrugem está demolindo a máquina. São dois pesos e duas medidas ou duas medidas e dois pesos? Fica claro que o ‘valor histórico’ depende do ponto de vista de cada pessoa ou da instituição. Às vezes, depende da conveniência do momento. Vamos colocar o assunto para um debate, é mais democrático, e assim, pode-se tomar uma decisão sem radicalismo.
5 comentários:
Amigo Ocampo,
sigo seus comentários e contribuo com minha opinião sempre que posso, ou me apetece.
Já concordei e já discordei da sua opinião.
Quanto ao assunto do BARCO JARDIM:desde a inauguração ainda não visitei a Madeira-Mamoré.Falta de tempo, quero crer...No entanto, se não posso dar opinião quanto ao BOM OU MAU GOSTO das obras, posso com certeza falar, E MUITO BEM, das pessoas do IPHAN com as quais convivi por anos. O Beto Bertagna é pessoa muito séria e muito competente, que deu vida a um órgão que estava morto/inativo em nossa região. Além disso, quando o SUPERINTENDENTE de uma entidade dá uma declaração, fala pela entidade, e é embasado em Pareceres de técnicos de várias disciplinas, que durante vários anos vieram a nossa cidade para avaliar aquele patrimônio. Prometo ao amigo uma visita, mas em contrapartida, peço ao amigo cuidado ao citar o nome de uma pessoa que me é cara.Saudações Rubronegras!!!
Parabens Ocampo....continue acompanhando e relatando, pois no final sobrarão somente os registros que forem feitos por interessados na nossa história. Depois estará tudo tão descaracterizado que não será possível a recuperação de nada.
A respeito do barco, com certeza não poderia continuar como estava, mas da mesma forma tenho certeza que o barco tem muito valor histórico e como cidadã, entendo que transformá-lo em jardim não foi a solução mais adequada.
Foi sim, a solução mais simples para acabar com aquela agua podre que se armazenava no interior do mesmo.
Lamento.
OCAMPO, meu saudoso e querido pai trabalhava ali, naquela predio atras do Armazém nº 1. Só pra registrar, ele era o sub de tudo ali. O escritório do "plano inclinado" era naquele casario de madeira. Logo atras era o deposito de sal.
Meu pai me certificou que aquele baletão, chamava na época de XAPARI, de origem do Pará, onde foi construido (por isso está ali inscrito).
Aquela embarcação, ficou ali vitima de uma cheia, simplesmente. O Rio encheu, ele foi ancorado ali e ali ficou até hoje.
Absurdo, sinceramente a gestão do IPHAN não tem carater teórico, conceitual e técnico pra se pronunciar a respeito. Deveriam ficar calados e tentar rapidamente reaver essa falta de respeito com o nosso patrimônio.
1º A carta de Washington - ICOMOS, 1986 - diz que "todas as cidades do mundo são as expressões materiais da diversidade das sociedades através da história e são todas, por essa razão, históricas".
além de que a "memória coletiva reúne lembranças, heranças ou elementos que constituem o imaginário comum de determinada comunidade ligada à um passado comum" (RANGEL, Marília Machado. 2002).
Manda esse povo pra escola...
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