Vou fazer uma analogia dos assuntos do momento: revolta no canteiro de obras de Jirau com o terremoto/tsunami ocorrido no Japão, no dia 11 de março.
Tudo começou em 2001, com os trabalhos de prospecção nas cachoeiras de Santo Antônio e Jirau. O estudo era para saber a real viabilidade econômica e o potencial energético do empreendimento. Em 2003, foram feitas as primeiras reuniões com os segmentos de Rondônia.
Na condição de Secretário Municipal de Meio Ambiente, fui convidado a participar da primeira grande reunião no auditório do Hotel Aquário.
Após a demonstração em telão de como seriam as obras das hidrelétricas no rio Madeira, um grupo de pessoas e políticos de um grande partido manifestou-se contra as hidrelétricas no Madeira. Foi um constrangimento geral.
Naquele momento, o Brasil passava por uma crise energética. O apagão que ocorreu, em 2001, causou preocupação no governo. A saída para termos energia para evitar novos apagões seriam as construções de hidrelétricas na Amazônia, pelo potencial hidrográfico da região. Nas regiões Centro-Oeste e Sudeste haviam se esgotado qualquer possibilidade de outras hidrelétricas para atender a demanda energética do país.
A prioridade era Belo Monte, no Para, e Madeira. Era uma questão prioritária do governo federal.
Faltava agora convencer a sociedade para que ela aceitasse essas interferências no curso de um rio de grandes proporções em volume de água e extensão. As empresas construtoras passaram a cooptar adeptos para conseguir o seu intento.
As primeiras estratégias foram: obras sem impactos ambientais e geração de emprego. Caíram como uma luva.
Governos, empresários, instituições, e políticos, se uniram a favor das usinas. A mídia local contribuiu para divulgar o grande mote: empregos para a população.
Ao mesmo tempo os estudos ambientais avançavam. Mas questionamentos eram feitos. Com essas construções anunciadas na mídia nacional, os porto-velhenses passaram a temer uma mudança na rotina da cidade. A experiência do garimpo no Madeira não era das melhores.
Portanto, a possibilidade dessa catástrofe foi anunciada antes mesmo das obras se iniciarem. Sabíamos antecipadamente do grande volume de pessoas que viriam para Porto Velho atrás de empregos. Portanto, tínhamos consciência das conseqüências que as construções das hidrelétricas trariam em todos os sentidos: ambiental e social. Ou seja, os abalos sísmicos poderiam acontecer pelo tamanho dos empreendimentos, com terremotos e tsunamis em alta escala.
Mas a pressa é inimiga da perfeição. E assim, se iniciaram os trabalhos da montagem dos canteiros das obras.
Como a população estava vendida, aceitou as usinas como se fosse uma obra de sonhos e maravilhas. Pintaram o paraíso com cores atraentes na Amazônia. Um novo eldorado se estabelecia para todos. Isso foi dito diariamente por todos que eram a favor das obras. Mas, nos colocaram numa região sujeita a terremoto de alta escala.
Me lembro que adesivos foram confeccionados para colar nos carros como forma de induzir a comunidade local a aceitar as obras no Madeira como as salvadoras dos desempregados.
Contudo, não fizeram a preparação do terreno (Porto Velho) antes do início dessas grandiosas obras no Madeira.
A população aumentou assustadoramente. Em três anos pelo menos 100 mil pessoas a mais na cidade.
As promessas de melhorias estruturais da cidade foram anunciadas. Mas continuamos com a mesma infra-estrutura: não foram construídas escolas para atender a demanda crescente; não alargaram as principais vias urbanas; os viadutos até agora estão por concluir; a quantidade dos bancos oficiais são os mesmos (Banco do Brasil e Caixa); estruturas da saúde pública são as mesmas (fizeram apenas reformas); faltam funcionários públicos no sistema de saúde e segurança pública; transporte urbano; a rodoviária é a mesma (superlotada nos finais de semana). Enfim, aquilo que prometeram a população, pouca coisa foi acrescentada.
Como não construíram as obras para suporta os possíveis abalos sísmicos, sabendo que estamos numa cidade construída (pelos que eram a favor das usinas) sobre rachaduras de placas tectônicas, mesmo assim, deram pouca importância ao caso. Algumas ações se iniciaram, mas estão lentas para sua conclusão.
Os impactos sociais estão presentes em nossa cidade de Porto Velho e nos distritos com acréscimos: da violência, de estupros, de assaltos, da prostituição, de roubos e, demais mazelas.
Como estamos vivendo numa região de risco, o que temíamos aconteceu antecipadamente, dia 16, às 17h e 30m. O terremoto (revolta dos trabalhadores) foi devastador, 8,9 graus de magnitude, com o epicentro do tremor no canteiro de obras de Jirau. Uma das fissuras da placa tectônica que sempre indicou perigo, se móvel brutalmente.
Como o terremoto aconteceu no meio do Madeira suas águas se levantaram, gerando uma grande anda (milhares de trabalhadores) chamada tsunami, que se formaram em conseqüência do tremor.
À medida que a grande onda rumava em direção a Porto Velho, ela passou pelo Distrito de Jaci Paraná. Os moradores apavorados, aos gritos de pavor, com medo de saques e incêndios, começaram, alguns, fazer mudança, colocando seus pertences em carros para deixar o Distrito. Pude assistir uma filmagem de celular, que mostra o pavor dos moradores, como uma dramatização hollywoodiana.
A notícia do tsunami (avanço dos operários) em direção a Porto Velho deixou a população apreensiva. Quando as ondas (trabalhadores) adentraram a cidade, causou estragos em parte da cidade: pânico, medo, comércio fechado e stress emocional.
A noite de quinta-feira, 17, transformou a cidade quase vazia. Até os bares e casas noturnas da Pinheiro fecharam. Mas, para a sorte dos porto-velhenses, as ondas que chegaram à cidade, perderam suas forças (fúria dos trabalhadores). Mas o pânico foi geral.
Ficou demonstrado nesse primeiro terremoto/tsunami, que a empresa construtora, não está preparada para tal fenômeno sísmico dessa envergadura. Faltou experiência e mesmo capacidade da empresa em agir com competência para minimizar os impactos, como incêndios e quebradeira do patrimônio no canteiro de obras.
Até agora a empresa responsável pela construção da hidrelétrica não informaram oficialmente a população o porquê da revolta dos trabalhadores.
A maioria da população não tem nada com a situação particular (empregador/trabalhador) dessas empresas privadas construtoras das hidrelétricas. Elas têm o dever de proteger a população desse constrangimento grosseiro, como a do último acontecimento. Portanto, terremotos e tsunamis ainda poderão ocorrer futuramente. Por isso a cidade deve ser protegida dessas tragédias.
O que estamos passando, é o prenúncio do que poderá vir acontecer no futuro em nossa cidade, quando esses mesmos operários estiverem sendo dispensados com o final das obras de concretagem. Serão milhares de desempregados.
Para minimizar os impactos do tsunami se construiu uma barreira no entorno da cidade, onde se mobilizou um aparato de servidores públicos de segurança para conter a possível fúria avassaladora, envolvendo, Polícia Civil PM, Polícia Federal, Guarda Nacional, ABIN e o Exército.
Quem vai pagar essa conta?
2 comentários:
Gostei do comentário Ocampo. Outro detalhe que não foi percebido foi que ficou patente que a grande maioria dos trabalhadores são de outros estados. Notaram a quantidade ônibus que foi necessário para levartodo mundo embora. Espero que tenha servido de lição para os gestores das usinas: se os trabalhadores fossem de Porto Velho, não haveria esse vandalismo (acredito nisso) e se houvesse não haveria outras necessidades pois cadaum iria para sua casa (muito mais econômico para a empresa). Efim que eles aprendam a valorizar o pessoal daqui.
as opções, Ocampo, são as seguintes : 1) usinas hidrelétricas, 2) usinas nucleares, 3) centrais termoelétricas, 4) energia eólica , ...outras formas de energia. o que não se concebe é a FALTA DE ENERGIA. ou alguém considera voltar pra lenha e abrir mão de computador, internet, ar condicionado, microondas, televisão, equipamentos médicos das UTIs, salas de parto equipadas, raios X nos traumatismos...a energia mais limpa do mundo é a brasileira, cobiçada pelo resto do mundo, mas a alcance apenas da gente por causa do potencial hídrico único no mundo. Colocar em questão a construção das usinas é, em minha HUMILDE OPINIÃO de engenheiro civil ( ou seja, não especialista em energia e/ou preservação ambiental ) um belo tiro no pé. Soa um pouco como aquelas pessoas que criticam os herbicidas e agrotóxicos, exortam a população a comer hidropônicos, mas não explicam EXATAMENTE de onde 6 bilhões de pessoas vão tirar R$ 3,00 pra dar num pé de alface que cultivado com agrotóxico custa centavos...
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