Hoje é DIA DO ÍNDIO - Foi instituída no dia 19 de abril de 1944, por decreto assinado por Getúlio Vargas (coincidentemente a data de seu aniversário). Foi o Marechal Rondon o grande responsável pela implantação dessa data no Brasil, após estudos, convenceu o presidente Vargas a destinar um dia de homenagem a todos os índios do continente americano.
Quando falamos de defesa aos indígenas tem-se no Brasil um ícone: Rondon, intransigente defensor dos índios brasileiros. Passou a ter admiração e respeito as etnias indígenas seguindo o exemplo de seu primeiro e único chefe no sertão, o major Gomes Carneiro. Rondon foi além. Propôs a criação de um órgão destinado à causa indígena, sendo aceito pelo presidente Nilo Peçanha, que autorizou a instituição do Serviço de Proteção aos Índios, em 1910, sendo Rondon seu primeiro presidente.
Seguidor da doutrina positivista, Rondon considerava os índios com direito a prosperar, podendo evoluir para estágios iguais aos “homens brancos”, pois têm inteligência e capacidade. Bastava dar-lhes as condições de novas técnicas, ferramentas e garantias de suas terras. Naquele tempo, os índios eram vistos como inimigos por considerarem uma barreira para o chamado “progresso brasileiro”. Rondon passou a se opor a tudo isso e a defendê-los, fazendo com que o Estado garantisse sua proteção.
Mesmo antes da criação do SPI, Rondon já fazia defesa aos índios. No período em que realizava sua jornada em direção ao Madeira, viu publicado na Revista do Museu Paulista, em 1908, um artigo do renomado diretor do Museu de São Paulo, H. Ihering, que declarava que o único caminho para o progresso do interior de São Paulo era o extermínio dos Kaingang. Na ocasião, esses índios viviam atacando os trabalhadores que participavam da construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil que atravessava suas terras.
Uma das vozes que se manifestou contra H. Ihering foi a do major Rondon, que escreveu uma carta em apoio a João Baptista de Lacerda, então diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que também se manifestou contrário ao Diretor do Museu de São Paulo. Na carta Rondon expõe sua impressão de como os índios deveriam ser tratados:
“Todos teem capacidade bastante para as artes quaesquer e para a indústria, como provam os seus trabalhos rudimentares de toda sorte, para assimilar as sciencias desque que a elles facilitemos uma educação; não são elles nem mais bárbaros nem mais deshumanos do que os que, proclamando-se civilizados, não trepidam em pregar o extermínio de uma raça inteira, a pretexto de progresso e civilização.” – Do livro Impressões da Comissão Rondon: Major Amílcar Botelho de Magalhães. 3ª ed. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1926. p. 256.
Rondon já havia passado por experiências negativas com os Nambiquaras, em 1907, quando foi atacado e não morreu, por pura sorte. Naquele momento titubeou, entre atacar e não atirar nos índios que os flecharam. Preferiu se retirar como um ‘covarde’ para ter depois a recompensa. Cinco anos depois faz as pazes definitivas com aquela etnia, considerada a mais hostil daquela região do Mato Grosso. Rondon sabia que para atravessar suas extensas terras teria que ser pacificamente. Antes de 1912, os Nambiquaras causaram temor e inúmeras mortes de trabalhadores da Comissão.
No final da década de 1930, o etnólogo francês Claude Lévi-Strauss, então com 22 anos, fez uma viagem ao longo da linha do telegrafo, e conheceu muitas histórias sobre trabalhadores da Comissão Rondon que tinham sofrido mortes horríveis nas mãos dos Nambiquaras e chamou aquela região de “Mundo Perdido” – Livro Tristes Trópicos, p. 233.
Rondon pacificou dezenas de grupos indígenas no Centro-Oeste e Norte brasileiro e jamais permitiu que seus comandados atacassem os índios, mas usassem sempre a persuasão e métodos de aproximação para que não houvesse hostilidade. Pela causa, Rondon se dedicou por mais de seis décadas. A relação respeitosa com os grupos étnicos contribuiu para desmistificar a imagem de violentos, assassinos e até antropófagos que se estabeleceu em torno dos índios, antes de Rondon.
Dos milhares de encontro com seus amigos indígenas, um foi marcante e aconteceu quando Rondon fez sua última viagem ao Mato Grosso, e pôde visitar o velho chefe Bororo Oarine Okuneu, chamado de Cadete. São amigos há mais de 50 anos. De mãos dadas conversaram longamente na língua Bororo. Em dado momento Rondon vira-se para seus acompanhantes e explica: “Sabem o que ele está dizendo? Aconselha-me a vir morrer aqui porque, estando eu assim tão velho, já não posso durar muito, e só os Bororo saberão fazer o meu funeral”. O velho índio morreu antes de Rondon.
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